O que é afinal a comunicação?
Ter sempre em conta os aspetos “escondidos” da comunicação
 
 
 
Elementos que definem a comunicação
A comunicação é simplesmente a transmissão de informação, geralmente entre diferentes indivíduos ou grupos. Ela envolve:
emissor ou fonte (aquele que tem a informação e pretende transmiti-la),
recetor (aquele que recebe a informação),
mensagem (a informação que se pretende transmitir)
canal (meio através do qual a informação é entregue e.g. por telefone, por papel)
código (conjunto de regras que são conhecidas pelo emissor e pelo recetor que são utilizadas para enviar a mensagem e.g. idioma)
feedback (resposta do recetor depois de obter a mensagem e.g. uma emoção desencadeada quando se recebe uma boa/má notícia)
 
Comunicação verbal e não-verbal
Geralmente referimo-nos à comunicação como uma troca oral ou escrita de informação. A estes sons e à linguagem que se utiliza para transmitir uma mensagem damos o nome de comunicação verbal.
Contudo, mais de 70% da mensagem é enviada através de formas não-verbais (tom de voz, expressão, gestos, roupas, proximidade ao recetor, etc.). Tenta imaginar o que o gato na imagem está a dizer, “Estou tão contente com isto!”. A tua impressão é aquela enviada de forma verbal (se está mesmo feliz)? Ou é a mensagem não-verbal demasiado forte para tu acreditares que está feliz?
Considera-se frequentemente que a comunicação é inevitável. É impossível de não se transmitir. Mesmo que não digas ou escrevas nada, isso é um comportamento, a forma como te vestes, a forma como andas e te sentas, tudo envia uma mensagem. Mesmo que te isoles completamente do resto do mundo continuas a comunicar, dizendo: “Eu não quero ver ninguém!”. Aquilo que fazes, como te comportas, a expressão da tua cara, o contacto visual, e o tom da tua voz, cada um destes elementos “diz” algo à outra pessoa. E mais importante, podem todos ser mal interpretados.
Tem em conta que não é apenas aquilo que dizes que importa. Como o dizes é por vezes mais importante!
 
As dimensões da comunicação
Além disso, mesmo quando nos referimos à comunicação verbal, se perdermos um pouco de tempo a analisar o processo, iremos notar que sempre que comunicamos algo não estamos apenas a transmitir uma mensagem. Tomemos, por exemplo, a seguinte comunicação, num local de trabalho, entre um empregado e o seu superior:

Pode parecer bastante simples: uma pessoa evidência a que outra chegou mais tarde. Bem, esta é apenas a parte objetiva da mensagem. Indo mais fundo no seu significado, podemos observar que essa pessoa está também a transmitir outras informações. Em primeiro lugar, ao repreendê-lo, ela está a enfatizar que está numa posição hierarquicamente superior, desta forma está a ser transmitido algo sobre a relação entre os dois. Em segundo lugar, ao dizer isso, ela está a afirmar que não está satisfeita com o sucedido e que não deverá voltar a acontecer, por isso é enviada uma chamada para a ação. Por último, ela está também a dizer algo sobre si mesma, que não é alguém muito tolerante com as pessoas que não chegam a horas.
Aquilo que pensamos ser apenas “uma mensagem” são na verdade 4 mensagens:
uma objetiva: “Vi que chegaste tarde de novo”
uma auto-revelação: “Eu não fico contente quando as pessoas chegam atrasadas!”
uma chamada para a ação: “Por favor não chegues tarde de novo!”
algo acerca da relação entre os dois: “Eu sou a tua chefe!”
Porque é importante saber estas coisas? Bem, sabendo que a comunicação nunca se trata de uma mensagem e que estão a transmitir imensas ao mesmo tempo, mesmo que não seja intencional, torna-nos mais cientes sobre os erros que podem acontecer, onde poderão surgir e porquê.
Imaginemos que a nossa atitude perante um colega é neutra e tendemos a não comunicar com ele. Nada de mal pode surgir disso, certo? Bem, não exatamente! Essa pessoa pode interpretar o silêncio como um sinal de hostilidade e ficar com a impressão que não gostamos dele, por isso ele irá comportar-se em conformidade com esse fato. Basicamente não fizemos nada de mal, mas como há bastantes aspetos envolvidos na comunicação, existe agora um clima pesado entre nós.
Pensando noutro exemplo, vamos agora pedir a um voluntário da organização para nos trazer o agrafador. Simples, certo? Bem, de novo, não exatamente! Mesmo que a mensagem que estamos a enviar seja que precisamos de um agrafador, estamos também a dizer algo sobre a nossa relação. Dado ele ser um voluntário novo, pode perceber da mensagem que, sendo um membro novo na equipa, o consideramos como um membro inferior da equipa. E de novo a tensão aumenta sem o emissor perceber porquê.
Vamos pensar em algo que provavelmente todos nós fizemos num certo ponto: chegar atrasado a uma reunião. Podemos chegar lá com as melhores intenções possíveis mas isso não irá prevenir os outros de pensarem que a reunião não é importante para nós, pois não nos importámos sequer em chegar a tempo. Mesmo sem estarmos lá, comunicámos a essa(s) pessoa(s) algo de negativo, e isso provavelmente irá afetar a próxima interação.
Por todos estes e muitos outros aspetos que não foram abordados aqui, é mesmo muito importante que ao comunicarmos tenhamos em atenção todas as diferentes fases do processo e termos também certeza que todas as mensagens que estamos a enviar não serão mal-interpretadas.
 
 
Não é apenas aquilo que dizes que importa. A forma como dizes é igualmente ou ainda mais importante!
 
 
 
Exercício prático
Comunicação não-verbal
Num número de papeis equivalentes ao número de participantes, devem ser escritas as seguintes emoções (e posteriormente distribuídas de forma imparcial) :
- Felicidade
- Tristeza
- Aborrecimento
- Surpresa
- Raiva
- Nojo
Cada participante deve receber um papel representando um tipo de emoção. Depois disso, os participantes serão convidados a se agruparem por emoções (todas as pessoas que receberam tristeza, felicidade, etc.) sem falarem uns com os outros, apenas demostrando essa emoção. Assim, irão ser divididos em grupos e pode ser feita uma análise às mensagens não-verbais e sobre a forma como comunicamos, mesmo se não estivermos a falar.
Perguntas para a análise:
- Foi difícil criar o grupo?
- Como conseguiste(conseguiram) formar o grupo mesmo sem falarem uns com os outros?
 
Exercício prático
Comunicação não-verbal
Para explorar ainda mais outros tipos de mensagens não-verbais, que não são necessariamente uma extensão do verbal, pode-se organizar um roleplay. Usando as equipas do exercício anterior, pede para encenarem as seguintes situações:
- Um responsável de uma ONG pede ao voluntário para aguardar pois está ainda atrasado(a), numa reunião com outro cliente.
- Um responsável de uma ONG esquece-se do nome do cliente
- Um responsável de uma ONG atende uma chamada no seu telemóvel
- Um responsável de uma ONG pressiona consistentemente o botão da caneta
- Um responsável de uma ONG é desatento, não estabelece contato visual e está constantemente a escrever ou rabiscar
- Um responsável de uma ONG tem uma linguagem corporal inadequada, cruza os braços cruzam, aponta o dedo, etc.
A análise incidirá sobre que tipo de mensagens que podem ser enviadas se não prestarmos atenção, deve-se pedir inclusivamente aos participantes para partilharem situações semelhantes que tenham enfrentado.
Perguntas para a análise:
- O que podes dizer sobre as situações apresentadas?
- O que observaste no comportamento dos participantes que te deu essa impressão?
- Poderias dar exemplos de outras formas em que comunicamos, mesmo se não falarmos?
 
Exercício prático
Perguntas abertas & fechadas
O formador deve explicar brevemente o que são questões fechadas (que geralmente precisam de apenas uma ou duas palavras para responder - começando muitas vezes por "Onde?", "Queres?", "Achas?", "Quantos?") e o que são perguntas abertas (que incentivam uma resposta mais elaborada, geralmente começando com "O quê?", "Poderia?", "Seria?", "Como?"). Além disso, devem ser enunciadas as vantagens e desvantagens de usar cada uma das abordagens.
Ao sentarem-se num semi-círculo, os participantes são convidados a pensar sobre uma questão fechada. Após dois minutos de pensamento, eles são convidados, um a um, a partilhar essa pergunta. A pessoa do lado direito deverá reformular a pergunta fechada de modo a criar uma pergunta aberta. Continuar no seguimento do exercício até que todas as pessoas tenham sido envolvidas.
Perguntas para a análise:
- Foi difícil reformular as perguntas?
- Podias dar exemplos de situações em que as perguntas abertas seriam melhores do que as fechadas?
 
Exercício prático
Clareza na comunicação
Um participante do grupo será convidado para vir à frente e receberá um desenho simples. Ele terá, então, de dar instruções aos outros para que eles possam desenhar o mesmo. Após as instruções terem terminado, todos os participantes devem mostrar o que desenharam e comparar com os restantes. Como provavelmente serão diferentes, pode-se iniciar uma discussão sobre o motivo de uma mensagem ser entendida de forma diferente do que pretendido, sobre a mesma informação ser percebida de forma diferente de pessoa para pessoa (dependendo de vários aspectos), e sobre como podemos ter certeza de que aquilo que pretendemos transmitir será entendido dessa forma.
Perguntas para a análise:
- Porque achas que o teu desenho é diferente do original?
- Dado que todos ouviram o mesmo, porque será que desenhaste coisas difierentes?
- Podemos encontrar situações semelhantes na vida real?
- Como podemos evitar que coisas semelhantes aconteçam na vida real?
Aqui podes encontrar uma imagem de exemplo para este exercício:
Desenho explicado - Imagem (botão direito do rato e seleccionar "Guardar/Salvar como..." no menu)